A primeira parte do concerto ficará a cargo da Orquestra de Jazz de Matosinhos, com obras de Pedro Guedes e Carlos Azevedo.
Aqui fica o texto que Mário Laginha escreveu sobre a sua nova composição:
Até aos Ossos
"Até aos Ossos" é o resultado de uma encomenda da Casa da Música. Trata-se de uma peça em sete andamentos (ou partes, como queiram) para saxofone e piano solistas + ensemble (o Remix Ensemble, naturalmente).
Ter a possibilidade de escrever para uma formação como o Remix Ensemble e para um músico como Julian Arguelles - para mim um dos maiores saxofonistas que já alguma vez ouvi - foi uma experiência apaixonante. A ideia de utilizar elementos dos universos do jazz e do clássico sempre me foi muito atraente. E apesar de ser bastante difícil sair bem sucedido nessa tarefa (o que eu sei não estar garantido à partida), o prazer da experimentação vale sempre o risco.
Como não quero ir mais longe na descrição do que compus, gostava de dizer o que penso, sumariamente, em relação ao acto de escrever música actualmente.
Em primeiro lugar, acho que a possibilidade de compor com traços de originalidade existirá sempre e nesse sentido o futuro não está comprometido, felizmente. O que pretendo dizer com isto é que, apesar de tudo o que já se fez em arte, o que existe à nossa frente não é menos do que existia à frente de quem criava há 200 anos. O que realmente muda é o passado. Temos hoje um muito maior legado de arte do que em 1800 e já estes o tinham em relação a quem viveu, por hipótese, no século anterior.
Temos agora o privilégio de ouvir em qualquer momento - basta desejá-lo - Bach, Mozart, Beethoven Brahms, Mahler, Bartók, Ravel, Prokofiev, Stravinsky, Gershwin, Schonberg, Cage, Ligeti, Emanuel Nunes, entre muitos outros, mas também Miles Davis, John Coltrane, Keith Jarrett, Charlie Parker, ou Beatles, Gentle Giant, Prince, Bjork, ou ainda Amália, Carlos Paredes, Tom Jobim, Chico Buarque - a lista é infindável.
Ou seja, o futuro não se esvazia, mas o passado torna-se cada vez mais rico e vasto.
Mário Laginha
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