quarta-feira, janeiro 18, 2006

Cartas de Olinda e Alzira


Vítor D'Andrade, Jorge Corrula, e José Neves trouxeram-nos, de 11 a 15 de Janeiro, "Cartas de Olinda e Alzira" de Bocage, no Teatro Nacional D. Maria II. É pena que uma peça tão boa, com uma encenação arrojada, e tão bem interpretada esteja em cena apenas 5 dias.
Não será possível repô-la, um pouco por todo o país e levar o poeta para fora da capital? Vá lá, Doutora, dê-nos um bocadinho de serviço público. Os actores merecem, e nós também. Aqui fica a Epístola I.

Olinda a Alzira

Que estranha agitação não sinto n'alma
Depois que te perdi, querida Alzira!
De meus olhos fugiu, sumiu-se o fogo,
Que a tua companhia incendiava!
Por uma vez se foi minha alegria,
Nem a mesma já sou, que outrora hei sido!
Minhas vistas ao céu lânguidas se erguem,
E a mim própria pergunto d'onde venha
Tão novo sentimento assoberbar-me?
Não se aquieta o coração no peito,
Não cabe nele, e viva chama no íntimo
Das entranhas ardente me devora,
Sem que eu possa atinar a causa, a origem.
Aqueles passatempos que na infância
Tão do peito queria, em ódio os tenho.
Das mesmas superioras a presença,
Que d'antes para mim era indif'rente,
Se me torna hoje dura, intolerável!
Aonde, aonde irão estes impulsos
Precipitar a malfadada Olinda?
Será, querida Alzira, a tua ausência,
Que me faz derramar tão agro pranto?
Debalde a largos passos solitária
Vago sem norte: ignoro o que procuro;
Ah! Minha cara! Os males que tolero
Expressá-los não posso, nem sofrê-los.

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